Em defesa da Escola Pública... e dum jornalismo serio...
Enviado à Diretora do jornal O Público Excelentíssima Senhora Diretora do Público
Bárbara Reis
Muitas foram as razões que me fizeram ir ontem (18.06.2016) à manifestação em defesa da escola pública, em Lisboa. Não é sobre tais razões que lhe escrevo, mas pelos motivos que me levam a ler o jornal que dirige, e a continuar, ou não, a considerá-lo uma fonte credível.
Porque estive na manifestação, desde as 14.30 às 19.00, posso afirmar que é falsa a vossa notícia de ontem, assinada por Clara Viana. Estiveram muitos milhares de pessoas, que preencheram o espaço disponível entre a rotunda do Marquês e a praça do Rossio, em marcha lenta e ininterrupta. No mínimo, a autora da notícia esteve muito poucos minutos no início da manifestação, quando ainda não se tinha iniciado a marcha nem a concentração estava completa. Fui consultar as últimas edições do jornal, e constatei que, ao longo das últimas semanas, a mesma Clara Viana assinou várias peças jornalísticas pouco rigorosas, que insistem numa interpretação favorável a uma posição parcial sobre o tema do financiamento público de turmas em colégios privados e claramente recusam quer a investigação mais aprofundada quer o princípio do contraditório a que o jornalismo sério nos habituou no último século, e que não é claramente a escola seguida por Viana.
Sobre a manifestação de ontem, pudemos ler na edição digital: «Manifestação pela escola pública começa em Lisboa com cerca de 2000 pessoas» (15h27), mais tarde alterado para «Manifestação pela escola pública junta alguns milhares de pessoas em Lisboa» (18h45), e também: «No palco, o secretário-geral da FENPROF, Mário Nogueira, saúda a "massa de gente" que afirma estar no que diz ser uma "grande manifestação”. A seu lado marcam presença Catarina Martins do Bloco de Esquerda, Jerónimo de Sousa do PCP, Ana Benavente do PS, o secretário-geral da CGTP-IN Arménio Carlos e a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa Helena Roseta, entre outros». As aspas dentro do texto são da autora da peça, e nada têm de inócuas.
Estive junto ao palco em que ocorreram as intervenções, e posso testemunhar que os oradores foram os seguintes: Mário Nogueira, da FENPROF, Diogo Teixeira Mendes, da Associação de Estudantes da Escola Secundária Lima de Freitas, Helena Roseta, da Assembleia Municipal de Lisboa, Isidoro Roque, da Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais, Ana Sesudo, da Associação Portuguesa de Deficientes, Ana Benavente, ex. secretária de Estado da Educação, e Arménio Carlos, da CGTP.
Na edição em papel de hoje, o destaque dado à manifestação de ontem, comparado com o que foi atribuído à manifestação de semanas atrás, de sinal contrário sobre o mesmo assunto, confirma que a postura de Clara Viana coincidirá com a dos critérios editoriais da publicação no seu todo. Lamento que o Público escolha fazer informação sem rigor, a que passarei a chamar "notícias à moda de Viana", sem desprimor para os naturais das localidades que partilham este nome com o da autora da peça.
Na informação sobre a manifestação que levou milhares de cidadãos às ruas, a falsidade é grosseira, e facilmente descoberta pelo leitor mais atento ou informado: noutros, poderá ser mais subtil. Em qualquer das situações, a confiança dos leitores fica abalada. A credibilidade do Público, hoje, desceu muitos pontos no ranking da comunicação social livre e isenta.
É uma pena.
Com os meus cumprimentos,
Nota editorial:
Este texto enviado para o jornal "Público" e partilhado pela sua autora na sua página do Facebook é aqui publicado a nosso pedido com a devida autorização da autora.
Etiquetas: 18 de Junho de 2016, escola pública, imprensa, jornalismo, Lisboa, manifestação, Maria José Vitorino, Público