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quinta-feira, setembro 30, 2010

Centenário da República (II): comemorações na Guarda

Carolina Beatriz Ângelo. Intersecções dos sentidos / palavras actos e imagens.

De 24 de Junho de 2010 até 31 de Outubro de 2010



Carolina Beatriz Ângelo nasceu a 16 de Abril de 1878, na cidade da Guarda e revelou-se uma das figuras mais emblemáticas do feminismo e do republicanismo da 1.ª década do século XX, sabendo combinar a medicina com a militância associativa, política e maçónica assente na reafirmação incessante de direitos para as mulheres.
Formou-se em Medicina em 1902 e envolveu-se, entre 1906 e 1911, na edificação do associativismo feminista de matizes pacifista, maçónico, republicano e sufragista. Conspirou, em 1910, pela República, bordando, com a colega, amiga e companheira Adelaide Cabete, as bandeiras hasteadas durante o 5 de Outubro e, com a República, transformou-se numa denodada batalhadora pelo sufrágio feminino, mesmo que abrangendo uma minoria.
Abraçou o Pacifismo ao aderir, em 1906, ao Comité Português da associação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes; integrou, em 1907, a Loja Humanidade, da qual foi Venerável; esteve na formação do Grupo Português de Estudos Feministas (1907-1908); emparceirou na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1908-1911) e, em 1911, dando ênfase ao seu sufragismo, construiu com Ana de Castro Osório, a Associação de Propaganda Feminista. Foi a primeira mulher a votar em Portugal. 

Inconformada, rebelde, temperamental, decidida e consequente, não abdicou de princípios e reforçou as suas convicções enquanto feminista e sufragista quando a revolução republicana saiu vitoriosa. Então, e numa militância diária frenética, integrou delegações que conferenciaram com os novos poderes políticos, assinou as reivindicações que lhes foram apresentadas, criticou a benevolência com que eram tratados os conspiradores monárquicos, preocupou-se com as divisões entre os republicanos, assistiu à abertura solene da Assembleia Nacional Constituinte e encetou diligências para que a Constituição consagrasse o sufrágio feminino restrito.
 A Carolina sufragista revelou-se determinada ao intuir que a lei eleitoral de Março de 1911 não vedava explicitamente o voto às mulheres. Enquanto viúva, chefe de família e uma filha a seu cargo, quis recensear-se. Não a deixaram! Recorreu para os tribunais, a pretensão foi atendida e teve direito a inscrever-se como eleitora. Chegado o dia 28 de Maio, a eleitora n.º 2513 apresentou-se na assembleia de voto do Círculo n.º 34 de Lisboa Oriental, sita no Clube Estefânia, e votou sob uma salva de palmas dos presentes. 
Com esse gesto de colocar o boletim de voto numa urna fez História e tornou possível o que se julgara impossível: uma mulher votar e ela foi pioneira em toda a Europa do Sul e na esmagadora maioria dos países. Recebeu reconhecimento nacional e internacional, foi fotografada, retratada, entrevistada e biografada, o seu acto teve repercussões além-fronteiras e abriu portas à internacionalização do feminismo português, com a adesão, no mesmo ano, da Associação de Propaganda Feminista à International Woman Suffrage Alliance (IWSA).
Subitamente, a 3 de Outubro de 1911, com apenas 33 anos, morreu ao regressar de uma reunião política, com a consolação de ter vivido muito em pouco tempo e de se ter entregado a causas que considerava justas, independentemente dos dissabores, incompreensões e desilusões. Deixou escrito que queria um enterro civil e dispensava a família, sobretudo a filha, de usar luto.
Cem anos depois, deparamo-nos com uma cidadã de plena actualidade: profissional competente, cidadã empenhada, mulher interventiva, crítica e conspiradora. A pioneira sufragista é recordada, enaltecida, estudada, divulgada e celebrada retomando o seu lugar na História através da exposição que o Museu da Guarda apresenta. 


Contactos:

Museu da Guarda
Rua Alves Roçadas, 30
6300-663 Guarda
Tel. 271213460
Fax. 271223221
E-mail. mguarda@imc-ip.pt


Nota editorial:

Informação enviada pelo Museu da Guarda

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