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sexta-feira, novembro 12, 2004

Poemas de Jall Sinth Hussein

Fiquei muito emocionada com a primeira edição de poemas de Jall Hussein, com a chancela da novel «Amores Perfeitos», de Vila Nova de Famalicão. O seu «Poemas do Índico» são uma obra de grande simplicidade, contendo, no entanto, a profundidade lírica da tradição oriental, tão arredada do nosso meio. O poeta Jall Hussein usa da técnica do haiku, com a sua severa pauta silábica, 5-7-5, sendo as redondilhas (maior e menor) uma forma de síntese que produz um impacte poético muito expressivo. Essa provocativa forma de síntese já tinha sido referida por autores do novo-mundo, que ousaram imitar os poetas orientalistas: Juan José Tablada, Mario Benedetti e até Octavio Paz. Parece que ninguém duvida de que o mais importante poeta, na senda dos haikus, é Matsuo Bashô (Bashoo), mas muitos outros (japoneses, chineses, turcos, indianos e muçulmanos) cultivaram essa forma epigramática.
Conhecíamos já a obra de Suffit Akenat, editada por uma editora brasileira, a «Landy», e agora o conhecimento mais completo de outro autor moderno do domínio muçulmano, que entronca em culturas várias (a europeia, a indiana, a moçambicana, a islâmica), traz-nos visão mais alargada da cultura poética semi-oriental, algo que tem escapado aos nossos críticos, mesmo os mais atentos, provavelmente com o olhar dirigido para aquilo que se produz no extremo oriente: refiro-me a Jorge Sousa Lopes e Gil de Carvalho, por exemplo, que têm feito um excelente trabalho na divulgação de autores de outras latitudes, muito embora não possam resgatar todos os nomes.
Jall Sinth Hussein parece-me um autor a descobrir, sob pena de deixarmos escapar, mesmo debaixo dos nossos olhos, uma pauta lírica de micro-poemas onde transparece o sentimento de perda provocado pela orfandade e pela fugacidade do tempo, o amor pelos que sofrem, a revolta contra os que fustigam a liberdade, um ideário marxista algo contido, um espiritualismo universalista, o panteísmo próximo do espírito budista, uma épica contida na alegria da vida, uma retórica de ensinamentos ao estilo da máxima e do provérbio e um discurso altamente vigiado. Discurso que se aproxima da poesia anónima, muito chegada à lírica tradicional e não autoral.
Como professora de línguas modernas, esta obra de que agora dispomos é outra pérola que não poderemos manter no limbo. Julgo que o prefácio do livro nos cede importantes notas para a compreensão do autor, embora me pareça que António Jacinto Pascoal não se sente perfeitamente à vontade perante a dimensão avassaladora desta lírica cifrada. Deixo-vos com um dos belos haikus que Jall Sinth Hussein produziu, e onde se distingue o pressuposto ideológico e proverbial do seu texto:

Sê como o morcego
vira o mundo ao contrário
não queiras ser cego

Uma palavra para a «Amores Perfeitos»: trilhem este caminho, não o percam de vista.

Fátima Kadijah
Professora

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O Senhor Silvenius é um excelente observador. eu diria que a emoçao da Fatinha é uma delícia, porque enquanto ela anda para ali a deleitar-se, alguém goza cagente. será o Braga?

mutimati manel dos plásticos

6:42 da manhã

 

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