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quinta-feira, novembro 11, 2004

AINDA O ENCERRAMENTO DAS MATERNIDADES NO INTERIOR: A POSIÇÃO DO BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS

Vem o Bastonário da Ordem dos Médicos, o Dr. Germano de Sousa (ver “Diário XXI”, 20/9/2004) juntar a sua voz, àquelas como a do Presidente da Comissão Nacional de Saúde Materno e Infantil (CNSMI), o Dr. Albino Aroso, que defendem o encerramento de oito das treze maternidades (por terem um n.º de partos iguais ou inferiores a dois por dia) existentes na Região Centro: Castelo Branco, Covilhã, Guarda (todas as da Beira Interior), Bragança, Mirandela (as únicas duas do Distrito de Bragança), Chaves, Lamego e Figueira da Foz. Destas só uma não fica no Interior.
E a concretizar-se esse cenário, nos distritos de: Castelo Branco, Guarda e Bragança, isto é, todo o Interior ao Norte do Tejo, não haveria uma única maternidade!!!
O Bastonário, talvez por fazer a declaração (citada por aquele diário) na Covilhã, defendeu que das três da Beira Interior se devia manter a da Covilhã, por aí existir um hospital universitário, da Faculdade de Medicina (a cuja criação, convém lembrar, se opôs a Ordem dos Médicos!) da UBI, devendo concentrar aí meios e serviços. Quando, para suprir a carência de médicos e enfermeiros, nomeadamente, algumas unidades de saúde do Interior (sobretudos em áreas rurais, desertificadas e mais isoladas, principalmente na Raia) começaram a aceitar e recrutar médicos e enfermeiros estrangeiros (na maioria espanhóis), a “voz corporativa” da Ordem dos Médicos fez-se ouvir contra essa situação, sem que apontasse alternativas, porque em simultâneo opunha-se a que aumentassem as vagas para Medicina, tal como se opôs à criação das novas faculdades de Medicina (entre elas a da Covilhã) e ainda se manifestava contra a ida de médicos (“contra a sua vontade”, já que não vão doutra forma) para unidades de saúde fora de Lisboa, Porto ou Coimbra. Ou seja, a Ordem dos Médicos vê o exercício da Medicina como um negócio exclusivo – como se dum Clube se tratasse – sendo que, quanto menos médicos existirem melhor, mais os doentes estão dependentes, mais ganham os médicos que existem e mais poder e influência politica cada um dos médicos exerce!
Algumas perguntas/reflexões, bem simples, directas, concretas e frontais, para o Sr. Bastonário ter em conta:
Os médicos Quando o Sr. Bastonário diz que não se podem manter hospitais sem meios nem pessoal e que se devem concentrar os meios e o pessoal, conhecerá a realidade de que fala? Quantos médicos existem em Portugal? Quantos por cada especialidade? Quantos finalistas em Medicina estão inscritos este ano? Quantos médicos estão a fazer internato? Quantos se encontram à beira (a um e dois anos) da reforma? Quantos médicos existem em Portugal, por hospital, centro de saúde e clínica? Quantos exercem noutro local? Quantos trabalham para o Serviço Nacional de Saúde (SNS)? Quantos exercem no privado? Quantos exercem medicina em exclusivo para o Estado? Quais são as maiores carências de pessoal médico, por hospital e centro de saúde? Por distrito e por concelho: quais são as doenças (e outros cuidados de saúde) que apresentam índices mais elevados. Qual é o número de médicos (por especialidade) por distrito e concelho? Os enfermeiros Quantos enfermeiros existem no território nacional, por distrito e por concelho? Desconfio que o Sr. Bastonário terá alguma dificuldade em me responder, visto que neste país, normalmente, ou não há números, ou quando há são deturpados (como os do desemprego).
Mesmo a análise dos mesmos não é a mais correcta! Estou a pensar também no caso da Educação, assunto a que voltarei brevemente. Para a defesa dum país sem assimetrias, harmonioso e equilibrado, à questão: Há profissionais e meios a mais num lado e a menos noutro?
A resposta não deve ser despedir os profissionais que estão a mais, nem fechar os serviços que com escassez dos mesmos e sim redistribuir esses profissionais, em excesso num lado e de que há carência noutro.
Esta é a resposta progressista e contra o país assimétrico.

A questão Público/Privado
Enquanto não existir uma cobertura pública total, ao nível da Educação (do pré- escolar ao 12.º ano e Ensino Superior) e da Saúde (para cumprir uma “coisa” chamada Constituição da República), não deviam abrir, em nome da transparência e do livre acesso de todos os cidadãos (chamam a isto: Igualdade) aos cuidados de saúde e à educação, mais escolas privadas nem mais hospitais privados (nem privatizar os públicos que existem). Assim como, quem advoga o encerramento dalguns cursos, tendo poder para o fazer, devia encerrar, primeiro os que existem no privado, e se, ainda assim, a oferta for excessiva se devem fechar cursos no público. Tal como, enquanto cidadão dum país democrático – país que devia lutar pela Igualdade – não posso aceitar que exista uma clínica privada a servir uma população, em exclusivo, porque o Estado, fechando serviços públicos, favoreceu os privados, condicionando o acesso aos cuidados de saúde da população carenciada (é a Liberdade de morrer?). Uma vez que, se não houvesse procura e tendo em conta que os privados procuram o lucro, estes não tinham aberto as portas!
Ou sou eu que estou a ver mal?

As ambulâncias
Que país este em que a maior parte das ambulâncias em vez de estarem ao serviço para prestar auxílio em casos de emergência, servem de meio de transporte para os muitos idosos e carenciados, que por não terem outros meios para se movimentar (e pagar táxis com reformas de miséria está fora de causa) a eles recorrem? É correcto que, num quartel de Bombeiros, de seis ambulâncias, muitas vezes, cinco delas estejam a servir, apenas, como meio de transporte de pessoas para idas a consultas? Quantas das saídas das ambulâncias são para prestar este serviço? Situação inexistente se houvesse serviços, com mais meios e médicos para os resolver. Se a morte é uma certeza (dizem que a única) quando se nasce, cabe-nos a todos adiá-la o mais possível, vivendo com a melhor saúde possível e combater as doenças, ou então não precisávamos de médicos (de enfermeiros…) e deixávamos os doentes morrer sem cuidados! Será uma opção?

Luís Norberto Fidalgo da Silva Trindade Lourenço

Penamacor, 22 de Setembro de 2004

Nota:
Publicado (parcialmente) no "Diário XXI", em 28 de Setembro de 2004, (integralmente) no "Povo da Beira", em 28 de Setembro de 2004) e no blog: http://cctertulias.blos.sapo.pt

Ver:
http://cctertulias.blogs.sapo.pt
www.diarioxxi.com
www.reconquista.pt (ver um primeiro artigo sobre este assunto)
www.gazetadointerior.pt
www.jornaldofundao.pt
www.jornaldocentro.pt

1 Comments:

Blogger Luís Norberto Lourenço said...

Este artigo foi publicado também na "Gazeta do Interior", na edição de 18/11/2004 (sei que hoje estamos a 17, mas o jornal sai com a data de quinta-feira e é posto à venda logo na quarta, em Castelo Branco).

Luís Norberto Lourenço

10:54 da manhã

 

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